Daniel Feingold – Formas Sintéticas

18.06 — 27.07.2019 | Galeria Cassia Bomeny
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O que me chama a atenção nos últimos trabalhos realizados por Daniel Feingold e agora apresentados na Cassia Bomeny Galeria é o fator de encadeamento entre eles. Nesse corpo de obras, identifico 3 grupos de trabalhos que analisarei em seguida. Contudo, antes disso, percebam não só a autonomia que cada obra de arte possui, mas como esses grupos criam relações estruturais e formais sem qualquer estabelecimento de ordem e valor. Essas obras parecem sempre saltar a um novo desafio ou suporte. É interessante perceber nessa exposição como o artista lida, pensa e estuda o plano; e, como fundamentalmente constrói seus campos de cor e espaços de organização.

Um primeiro conjunto de obras obedece a um certo ritmo organizado e construtivo. Uma mesma forma se repete – tendo o molde do bastão de óleo como modelo – criando composições seriadas, algumas monocromáticas, outras variando em conjuntos multicoloridos compostos por tonalidades em azul, preto, chumbo e vermelho. Sem dúvida, há uma sobriedade nessas pinturas em papel. Prefiro nomeá-las dessa forma a desenhos. Gosto de pensar que o trabalho de Feingold pensa a si próprio como algo insatisfeito com a sua própria condição. Nesse sentido, é duplamente transitório e ágil: primeiro, pela sua condição ou desejo de saltar do plano, e segundo pela forma como a cor se apresenta. Possui traços ritmados e inquietos, ao mesmo tempo em que obedece a um “esquema programático”. Afirmo dessa forma porque parecem simplesmente feitos ao acaso, porém são gestos deliberados sobre o papel ou a tela pois querem constituir um espaço. Esse conjunto de obras tem algo em especial que invariavelmente é trazido que é a falta. Em duas obras, o papel é completado por formas semelhantes a um bastão preto preenchido de óleo dispostas horizontalmente. Em determinado momento abre-se uma espécie de clarão sob esse véu negro e o que adentra é a luz: uma, em forma de óleo sobre bastão rosa, e outro, em azul. Esse sentimento de complementariedade entre as formas e a constituição de campos de cor que criam um balanço preciso e harmônico é algo, aliás, presente em toda a sua obra.

Já um segundo grupo de obras, também tendo a forma em bastão como figura central e mobilizadora de uma dinâmica, escoa suas formas pelo espaço do papel, tendo a dimensão desse suporte como limite. Paradoxalmente, as figuras parecem estar comprimidas e simultaneamente constituem uma força de fora para dentro, almejando “quebrar a moldura”. Há um encaixe perfeito entre as formas elaboradas por Feingold. Entre elas não há conflito. Ademais, acentuo a perspectiva, já colocada por outros críticos sobre o trabalho desse artista, de uma composição geométrica que se aproxima indefinidamente do campo da arquitetura. Nesse conjunto, em especial, existe a proximidade com uma planta baixa. Essa oscilação entre o que é pintura e o que é arquitetura, o que é real e o que pode vir a ser, entre o que é próximo e o que é imaginário, entre o que é possível ou planejado e o que é especulação e utopia é uma das forças de seu trabalho. Ainda sobre esse conjunto é interessante perceber como Daniel projeta por meio de finos traços uma projeção de formas e, por conseguinte, territórios. São como membranas, suaves e delicadas, que pouco a pouco elaboram uma nova camada sobre aquela já constituída. Há algo de projetual e inacabado sobrevoando essas estruturas e, sem dúvida, a evidência de uma aspiração ao espaço. Pouco a pouco as formas se “estufam” e anseiam se desprender do plano. A ideia de inacabado acentua a atmosfera de que a obra está em constante realização.

As Pinturinhas – série realizada com bastão óleo sobre tela – congregam as questões formais e conceituais das outras duas séries. Há um senso de organização da forma e da cor nesse suposto emaranhado de figuras aleatórias dispostas sobre o plano. Uma coisa importante a se dizer sobre o seu trabalho é que Daniel não desperdiça nada: não há um traço em vão, uma linha que escape ou um campo de cor que tenha sido adicionado sem razão, pois mesmo numa composição que parece estar inchada e caótica, pouco a pouco se observa uma razão harmônica para aquela constituição de formas e cores. Uma frequência pouco oscilante atravessa a obra e evidencia o caráter de equilíbrio da composição escolhida por ele. Nas Pinturinhas, os bastões parecem pousar sobre o papel mas com o propósito de construírem camadas que se sobrepõem a todo momento. A linha sinuosa, fraturada e envolvente torna transparentes as estruturas transitivas, próprias dessas obras. Não são pinturas que elaboram volumetria ou densidade, apesar de serem feitas a óleo, mas efetivam esse real e sincero interesse de Feingold em alcançar o espaço. Esse foi um desejo moderno da pintura que hoje, claramente, possui outra configuração. Como, por exemplo, a pintura se aproximando da vida e, em particular, da urbes. Decerto, sua obra tem uma proximidade, como já apontado no texto, com a arquitetura, e esse fato ganha mais intensidade quando percebemos a presença do grid, uma herança modernista presente de forma contundente tanto em Mondrian quanto em Agnes Martin ou Frank Stella. Entre a sua composição de malhas ortogonais estão representadas metaforicamente imagens de fachadas de prédios, ruas, vielas e outros elementos da cidade. Pelo fato de nos oferecer uma urbe recortada, que não se revela por completo, nunca temos a percepção de um todo, e sim de uma perspectiva oblíqua. Eis outra força de seu trabalho: a capacidade de nos levar alhures.

Por Felipe Scovino

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