Geraldo Marcolini – Paisagem sem dono

31.10 — 16.12.2023 | Cassia Bomeny Galeria

A Galeria Cassia Bomeny abre nova exposição com pinturas do artista plástico carioca Geraldo Marcolini. Curada por Christiane Laclau, a individual Paisagem sem dono reúne telas de duas séries que, apesar de distintas na técnica e no resultado estético, abordam a temática da paisagem marcada pela ausência do sujeito.

“Não há figuras, ações, roupas ou objetos que indiquem tempo e lugar”, observa a curadora. Na concepção de Christiane Laclau, “a pintura de paisagens seria uma das expressões mais subjetivas e reveladoras do olhar de um artista”. 

O título da mostra remete a uma questão política relacionada à paisagem contemporânea. “Se pensarmos no termo em inglês, landscape é um pedaço de terra, um lugar físico. E, hoje, todos os metros quadrados da Terra são propriedade privada ou pública. Por outro lado, a paisagem será sempre sem dono porque é caracterizada pela visão subjetiva de cada indivíduo – e também do artista”, reflete Marcolini.

A tela em branco é o terreno onde ele cria paisagens esvaziadas de narrativas a partir de fotografias e vídeos. “Algumas imagens são minhas, outras são anônimas mas dizem respeito à minha história. Eu busco a ligação da minha memória com a memória que pertence a uma coletividade”, complementa. “Não trago uma narrativa para o espectador porque quero dar relevância à pintura e aos elementos que a constituem. A paisagem per se é uma maneira de enfatizar a pintura, que é o meio por excelência para o artista exercer sua subjetividade”.

A luz é outro elemento recorrente na obra de Geraldo: “É a motivação principal e essa busca pelo seu registro é um elemento que atravessa meu trabalho como um todo”, diz o artista. Além da luz, a perspectiva de Marcolini se reflete no enquadramento e na cor. 

Em Paisagem sem dono, Christiane propõe o encontro de duas séries trabalhadas pelo artista: “Estimulei o Geraldo a retomar a série Transmission, que ele produziu ao longo de mais de uma década com seu cromatismo austero e linhas verticais que dão às imagens um aspecto reticulado, de baixa resolução. Apresentamos esta série ao lado de seus trabalhos recentes, com a entrada de cores e pinceladas mais expressivas, menos contidas. Esse contraste me pareceu muito interessante”. 

Em Transmission, o artista desenvolveu uma técnica que define como um terreno movediço entre importantes referências do seu trabalho: a fotografia, a gravura e a pintura. As telas em grande escala são produzidas sem pincéis, usando materiais não tradicionais, como retalhos de plástico bolha e borracha EVA entintados com o rolo. O resultado é uma espécie de fotocópia ampliada, uma imagem granulada e estriada que contrasta com a tendência contemporânea de alta resolução e nitidez. 

A Galeria Cassia Bomeny recebe três dessas pinturas impressas, que oferecem uma perspectiva diferente do trabalho de Marcolini se comparada à sua série mais recente, apresentada em dez obras na mostra. 

Na produção atual, o artista se distancia do controle da técnica e volta aos meios tradicionais da pintura para explorar paisagens envolvendo vegetações e o efeito da luz na água. Na representação de piscinas e lagos, ele flerta com a abstração ao eleger enquadramentos fechados e explorar a transmutação da imagem refletida, desafiando a definição visual. 

“Mesmo estando no terreno da figuração, onde mantenho a matriz fotográfica da imagem estática ou em movimento, considero que há uma busca pela abstração. É nos reflexos que aparece essa vontade de perder ligeiramente a imagem definida”, pontua o artista. 

Paisagem sem dono convoca o público a entrar em uma espécie de fenda temporal através das telas de Marcolini, num mergulho através do olhar. “Se Transmission evoca um tempo indeterminado, na série recente a textura cria um tempo em operação naquele instante. Em ambas, é como se nada acontecesse, mas um nada que difere da ideia de vazio”, analisa Laclau.

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